domingo, 23 de maio de 2010

"Quem ama até mata" - Diana Corso














A Diana Corso é uma psicanalista que escreve quinzenalmente pro jornal Zero Hora e escrevia até pouco tempo para a revista TPM. Ela é uruguaia e casada com o também psicanalista Mario Corso.
Eu gosto muito da percepção dela sobre os assuntos que pautam os noticiários ou o cotidiano.
A coluna dela pra Zero Hora de ontem (sábado)sobre os casos de homens visivelmente desequilibrados que vem invadindo escolas chinesas e matando toda e qualquer criança que eles consigam fez uma relação interessante com os famosos episódios de jovens americanos que também, um belo dia, adentram sua escola e fuzilam quem eles vejam pela frente.
Vale a pena perder 2 minutos e ler o que ela pensa sobre esse assunto, que por sinal, sempre me deixou intrigada e lendo a coluna dela, faz mais sentido pra mim agora.
Aí vai...

QUEM AMA ATÉ MATA

" Certos senhores chineses, gravemente desequilibrados, deram para invadir escolas primárias e agredir a marteladas e/ou facadas todas as crianças que conseguirem atingir. Este ano já foram quatro ataques. Esses eventos provocam o mesmo estarrecimento que as chacinas de jovens estudantes promovidas por colegas, que comovem os Estados Unidos com frequência.
Quando alguma tendência desagradável se repete em nossa vida, seja um ato, uma enunciação, um tipo de vínculo, enfim, nos pegamos insistindo em fazer algo que nos é prejudicial ou estranho, chamamos isso de sintoma psíquico. Para tratá-lo, questionamos o que isso significa, encaramos o que se manifesta em nós como um texto enunciado sem querer, uma mensagem mascarada. Esses crimes que se repetem impõe reflexão similar: por que essa insistência em gestos de loucura idênticos, de fuzilar jovens ou esfaquear crianças.
Jovens norte-americanos e crianças chinesas polarizam olhares, afetos, são muito amados.
Os adolescentes dos EUA são modelo de exportação de ideais para o mundo todo.
Através de seus ídolos, filmes e objetos, as imagens deles incorporam o que qualquer adulto deseja ser pela vida toda. Onde moram as maiores ilusões, costumam se desenvolver as piores frustrações, principalmente entre os 'outros' jovens, seus conterrâneos. São os que se miram e não se veem no exemplo, os rejeitados, ou estrangeiros a esse ideal.
Já entre os chineses, há três décadas convivendo com as políticas governamentais de um único filho por casal, as crianças pequenas tornaram-se uma espécie de artigo de luxo.
Cada criança é uma aposta única para uma família esperançosa de continuar-se, aprimorar-se. Não estranha que esses loucos dirijam sua fúria para o coração daquelas que centralizam tanto valor.
Nos anos 80 usávamos a frase 'quem ama não mata', lembrando que não é aceitável qualquer condescendência com os crimes passionais. O problema é que quem ama muitas vezes possui, engole o outro, confunde-se com ele e, em casos extremos, pode até matar.
Esse arrebato de sentimentos serve para amantes, mas também para pais e filhos, para todas as relações onde nossa vida deposita, ganha e perde o seu sentido a partir do vínculo com alguém. Sintomaticamente, os malucos de cada lugar vão destruir aquilo que a sociedade mais ama. Ao matar, vingam-se, por vezes libertam-se de sentimentos que os oprimem.
Por 'amor' a uma mulher, em nossa cidade (POA), mês passado um homem assassinou os seus três filhos e se matou. Infelizmente, até ser amado é perigoso.
(fonte: jornal Zero Hora de 22 de maio de 2010)

Um comentário:

  1. Por favor veja se pode me enviar o artigo que fala da ansiedade e busca da qualidade de vida, mas que trata da velocidade que achatou esta qualidade de vida, fala de adultos mutantes de criança irritadiça....
    Preciso fazer uma pesquisa de interpretação de texto.
    Muito obrigada.

    Nicione.
    Araguari. MG

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