quinta-feira, 3 de março de 2011

Arte - coluna da Márcia Fortes no O Globo


Eu adoro arte, em todas as suas formas... seja em esculturas, pinturas, colagens, videos e por aí vai...
Lendo o Globo de 27.02.2011, me deparo com uma coluna pra lá de interessante sobre o mercado de arte internacional e a forma como nós brasileiros reagimos aos trabalhos dos nossos conterrâneos...
Lê e me diz se a Márcia Fortes, que é diretora da Galeria Fortes Vilaça, não tá coberta de razão, hein?
" Não tenhais medo, pois valeis mais do que muitos pardais". Evangelho segundo São Mateus, capítulo 10, versículo 31.
Na Christie´s em Londres, durante o leilão de arte contemporânea semana passada, o clima era ameno e positivo. As batidas do martelo confirmavam a venda de 92% dos lotes da noite. Uma tela de Andy Warhol a 9,6 milhões de libras. Outra de Lucio Fontana a 2,4 milhões de libras. E uma Adriana Varejão a 1,1 milhão de libras, novo recorde para uma obra de artista brasileiro vivo. O ítalo-argentino Lucio Fontana, morto em 1968, é um dos expoentes da Arte Povera na Itália e um ícone da História da Arte do século XX. Já Adriana Varejão nasceu no Rio de Janeiro em 1964 e, desde o final dos anos 80, transforma referências explícitas da História (da vida e da arte) em obras de marcada originalidade. A pintura de Varejão, intitulada "Parede com incisões La Fontana II", atingiu metade do preço da tela do artista que lhe serviu de inspiração. Um marco impressionante para essa carioca, ainda jovem.
Em 2009, a tela "O mágico", de Beatriz Milhazes, atingiu na Sotheby´s de Nova York US$ 1 milhão. Isso não acontece da noite para o dia. É fruto do talento e da perseverança profissional dessas artistas, principalmente. A arte produzida hoje no Brasil tem um vigor e uma qualidade que impressionam os espectadores mais sensíveis e abertos. Digo "abertos" pois o preconceito ainda prevalece, por parte dos europeus e dos americanos, que são o epicentro do chamado "mundo da arte". Mas também, isso sim é triste, há um preconceito de nós brasileiros que ainda não aprendemos a pensar por nós mesmos, independentemente da aprovação estrangeira. Absorver e engolir o outro, tudo bem - a antropofagia é nosso alimento perpétuo. Mas subjugar-se ao outro, espelhar-se e terminar por aniquilar-se no outro, assim vamos mal.
Por que alguns artistas americanos ou europeus da mesma geração de Milhazes e Varejão, um John Currin ou Peter Doig ou ainda um chinês como Ai Weiwei, são ainda mais valorizados? Porque eles são apoiados, promovidos e adquiridos por seus conterrâneos. Porque em seus países há um forte circuito de galerias e instituições que os expõe e patrocina. Porque nos leilões os chineses alcançaram preços estratosféricos pagos pelos próprios chineses - imprimindo assim tamanha segurança que os "outros", os estrangeiros, foram atrás. Porque o sucesso mundial do YBA (Young British Artists, movimento dos anos 90) deveu-se aos próprios ingleses, que se uniram e gritaram ao mundo: "We are fucking brilliant!" Porque foi o americano Larry Gagosian quem pagou 9,6 milhões de libras pelo americano Andy Warhol. Porque eles, sim, sabem construir seus próprios mitos, colocar H maiúsculo na sua História.
Foi o argentino Eduardo Constantini quem arrematou a obra de Beatriz Milhazes, disputando os últimos lances com um brasileiro - reconfortante saber que nós, os sul-americanos, valorizamos uns aos outros. Fontes da Christie´s informaram que a tela de Varejão foi comprada por um brasileiro, e que os últimos lances foram disputados por outros dois brasileiros e um europeu. Excelente demonstração de autoestima! Precisamos praticar autossuficiência em casa e autoafirmação no exterior. Não aguento mais ouvir dos possíveis compradores brasileiros de nossos artistas: "Ele já mostrou no exterior?" Quando nos livraremos da consciência de colônia? Precisamos de uma dose de ufanismo na veia. Descontextualizando Jane Austen, ao preconceito estrangeiro vamos reagir com orgulho. Folgo em saber que alguns brasileiros estão agindo de forma contundente na mudança de paradigma para a nossa cultura. É assim que se faz a valorização da arte brasileira no exterior, é mostrando que fazemos, que temos, que podemos e acreditamos. Em nós."

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